Os Princípios de Gestão da Caça no Reino Unido
A Fundação The Game & Wildlife Conservation Trust promove a Gestão da caça e as melhores práticas como uma força para o bem, para a Conservação da Natureza e melhoria ambiental dos territórios agrícolas, florestas, planícies e zonas húmidas. Ao estabelecer estes princípios, quer promover as melhores práticas e a gestão sustentável de caça que visam proporcionar um ganho real para a biodiversidade.
O ganho real de biodiversidade é um conceito inserido no Plano Ambiental de 25 Anos do Defra (Department for Environment Food & Rural Affairs) e é uma abordagem ao uso da terra que leva ao aumento da biodiversidade. Os princípios são projetados para vigorar e ter relevância numa ampla faixa de grupos de interesse, desde Gestores de Caça e Caçadores, até às Organizações de Conservação da Natureza, Governo e Público em geral.
Como desenvolveram estes Princípios?
Para promover as melhores práticas, produziram um conjunto de princípios em 2019, que foram apresentados e discutidos em 19 briefings privados realizados entre o outono de 2019 e a primavera de 2020, cada um com uma audiência de aproximadamente 30 zonas de caça, de diferentes tamanhos, e incluindo algumas grandes organizações de caça turística/comercial. Decorreu uma consulta on-line, por meio do site do G&WCT, durante maio e junho de 2020. Mais de 340 respostas foram recebidas, com mais de 90% de apoio aos Princípios.
Foram revistas as diretrizes acordadas internacionalmente sobre uso sustentável e biodiversidade. Muitos dos princípios alinham-se estreitamente com a Carta Europeia sobre Caça e Biodiversidade da Convenção de Berna. A Carta tem diretrizes para os gestores de caça, mas também regulamentos para que estes possam ajudar os gestores de caça a beneficiar a conservação da biodiversidade.
Esta Carta é baseada em dois importantes acordos da Convenção sobre Diversidade Biológica. São os Princípios e Diretrizes de Adis Abeba para o uso sustentável da biodiversidade e a abordagem ecossistémica para a conservação (Princípios do Malawi). A Carta sobre Caça e Biodiversidade e os Princípios de Malawi e Adis Abeba são apoiados pela IUCN (International Union for Conservation of Nature) que é a autoridade global sobre o estado do mundo natural e as medidas necessárias para o salvaguardar.
12 Princípios para a gestão da caça sustentável
- Biodiversidade. Todas as zonas de caça, cuja gestão seja assente em aves de caça selvagens, aves de caça reintroduzidas ou uma combinação de ambas, devem esforçar-se para alcançar um ganho real de biodiversidade nesses territórios.
- Paisagem. Através da gestão ativa da paisagem rural, a gestão eficaz da caça apoia o crescimento das populações de caça, permitindo uma cota de abate sustentável com benefícios positivos para outras espécies, evitando níveis populacionais que possam prejudicar outros usos da terra, como a agricultura, a silvicultura e a conservação da natureza.
- Densidades. As aves de caça só devem ser reintroduzidas e manejadas em densidades apropriadas às circunstâncias locais, para que haja um ganho ambiental real ao realizar tal atividade.
- Diversidade. A criação, gestão e, por vezes, a regeneração adequada do habitat é necessária para todas as espécies de caça. A manutenção desta diversidade crítica e adequada de habitats é uma característica dos conselhos e recomendações do G&WCT, com base em investigação e observação científica. Os habitats criados, regenerados e geridos para as aves de caça incluem florestas, sebes, margens de campos, culturas de cobertura para a caça, misturas de sementes para aves selvagens, charnecas e zonas húmidas.
- Tempo. O repovoamento de aves de caça no verão aumenta o número de aves disponíveis para caçar no outono e inverno. Os gestores só devem soltar as aves de caça em habitats que lhes permitam aclimatar-se rapidamente à vida na natureza, seguindo as diretrizes e recomendações descritas no Código de Boas Práticas cinegéticas e nos padrões da British Game Alliance.
- Desenvolvimento. Depois dos repovoamentos com aves de caça, os habitats devem continuar a ser melhorados para abranger suas necessidades durante todo o ano.
- Responsabilidade. As Zonas de Caça devem garantir que toda a caça própria para consumo humano seja consumida.
- Ciência. Os coutos de perdizes selvagens devem avaliar as quotas de caça calculando o rendimento sustentável com base nas contagens anuais das espécies e seguir as recomendações do G&WCT para o rendimento sustentável de caça selvagem.
- Sustentabilidade. A gestão de caça fornece um incentivo para financiar de forma privada a criação, recuperação e gestão de habitats em grandes áreas do campo especificamente para a vida selvagem – algo que geralmente é apenas incidental a outras formas de uso da terra, como a silvicultura ou a agricultura.
- Vida Selvagem. Os habitats criados e geridos para as espécies de caça incluem florestas, sebes, margens de campos, culturas de cobertura para a caça, misturas de sementes e zonas húmidas. Há muitos outros benefícios da vida selvagem com esta melhoria de habitat. Juntamente com o habitat promovido e gerido para as espécies de caça, o controlo da predação e a alimentação suplementar são frequentemente aspetos importantes da gestão da caça. Essas atividades podem beneficiar uma enorme variedade de outros animais selvagens.
- Equilíbrio. O controle de predadores é realizado para reduzir a pressão de predação. Isto é especialmente importante na primavera, para reduzir os níveis de predação em aves, ninhos, crias em nidificação e durante o verão para proteger as aves jovens. Muitas espécies, incluindo várias de interesse de conservação, beneficiam do controle de predação realizado para conservar as espécies de caça.
- Controle legal de predadores. Os predadores visados são generalistas comuns e bem-sucedidos, de modo que uma redução temporária dos seus números localmente não prejudicará a sua população ou estatuto de conservação. As atividades de controle de predação devem ser realizadas de acordo com as diretrizes das melhores práticas para garantir que sejam legais, humanas e eficazes. Em nenhuma circunstância, qualquer espécie protegida deve ser morta ilegalmente para proteger a caça, nem qualquer atividade de controle de predação pode afetar negativamente o estatuto de conservação de uma espécie.
O que é a Convenção de Berna?
A Convenção de Berna é um instrumento jurídico internacional vinculativo no domínio da conservação da natureza, abrangendo a maior parte do património natural do continente europeu e estendendo-se a alguns Estados de África. É a única Convenção do género a nível mundial e visa conservar a flora e fauna selvagens e os seus habitats naturais, bem como promover a cooperação internacional neste domínio.
O tratado também leva em conta o impacto que outras políticas podem ter sobre o património natural e reconhece o valor intrínseco da flora e fauna selvagens, que precisa ser preservado e passado para as gerações futuras.
Cinquenta países (incluindo o Reino Unido) e a União Europeia assinaram a Convenção e comprometeram-se a promover políticas nacionais de conservação, considerando o impacto do planeamento e desenvolvimento no ambiente natural, promovendo educação e informação sobre conservação e coordenando pesquisas. Aparentemente, muitas leis de vida selvagem/ambientais da UE usam o texto da Convenção de Berna palavra por palavra. Seria muito difícil para qualquer organização de conservação não apoiar a Carta.”
Texto retirado do site G&WCT “Os Princípios de Gestão da Caça no Reino Unido” e traduzido por João Grosso com tradução e adaptação livres.