Projeto Allerton / Game & Wildlife Conservation Trust

A necessidade de estabelecer um quadro doméstico para a agricultura e a conservação pós-Brexit deu a esperança de que o governo consideraria algumas das abordagens alternativas para a conservação e uma agricultura sustentável que não encontraram aceitação na política conduzida pela UE. Embora a política agrícola tenha procurado abraçar um futuro mais sustentável e prático com, por exemplo, a inclusão de abordagens agroecológicas na Lei da Agricultura, a abordagem para a conservação da vida selvagem, como foi demonstrado pelos últimos pronunciamentos do Defra (Department for Environement Food & Rural Affairs), parece estar ‘atolada na lama’.

A primeira medida que procurou salvaguardar e melhorar as nossas paisagens, vida selvagem e património construído foi a “Áreas Ecologicamente Sensíveis”, introduzida em 1987. Desde então, os governos de diferentes convicções introduziram uma série de medidas agroambientais (AES agri-environment schemes) para ajudar a recuperar os nossos habitats e paisagens degradadas. O custo total destas para o erário público do Reino Unido até 2019 foi de £8,5 biliões (Defra 2020).

No entanto, apesar de todo esse investimento e com um aumento da área das nossas terras com a designação para c. 28%, o Reino Unido continua a falhar nas metas domésticas e internacionais. Por exemplo, os índices de aves do JNCC (Comité Conjunto de Conservação da Natureza)do UKBI ( United Kingdom Biometrics Institute)das áreas rurais mais vastas mostram que as aves dos campos agrícolas e as aves de floresta continuam em declínio; ao passo que as aves limícolas chave que nidificam no solo, como o maçarico-real, continuam a diminuir, apesar da investigação que demonstra que, além das pressões sobre o habitat, o aumento da predação é uma séria ameaça ao sucesso da reprodução e, portanto, à própria sobrevivência da espécie.

Mas há exemplos ‘estrela de ouro’ em que o investimento privado (não comprometido com as abordagens prescritivas) alcançou o sucesso demonstrável com a inversão do declínio da biodiversidade. O Projeto Allerton é apenas um exemplo, onde, por meio de uma abordagem de gestão, o número de aves canoras duplicou em apenas 3 anos. Aqui, os AES do governo foram reforçados por técnicas de gestão de caça, como o controle de predadores e a alimentação suplementar, com grande sucesso. E a história das terras altas “uplands” nos “Grouse moors” e sobre os pântanos para limícolas e outras espécies que nidificam no solo é igualmente encorajadora em relação ao que pode ser feito.

Embora as técnicas de gestão de caça, como o controle de predadores, não sejam a resposta para a recuperação de todas as espécies, o ponto é que o governo deve seguir a ciência – uma observação feita por Lord Krebs (que esteve envolvido na investigação sobre a conservação das aves dos campos agrícolas quando esteve na Universidade de Oxford) em ambos os comites  de ontem (23 de junho) “Committee of the Whole House” e na segunda leitura do debate (7 de junho) sobre o Projeto de Lei do Meio Ambiente na Câmara dos Lordes. No dia 7 de junho disse: “Sabe o Governo que ações terá que tomar para recuperar a natureza? Muitas das iniciativas apoiadas no Pilar 2 da Política Agrícola Comum não valorizaram a natureza porque não se basearam na ciência …  Poderá o Governo evitar cometer os mesmos erros? … ”.

Posso responder parcialmente à segunda parte dessa pergunta. Em algumas situações, a evidência científica existe, mas as suas conclusões nem sempre são implementadas, particularmente onde as respostas podem não ser politicamente corretas. Por exemplo, os “Grouse moors” que empreendem queimadas controladas e aplicam o maneio de predadores têm maior abundância de Maçaricos reais (Numenius arquata) do que as áreas sem Grouses (Lagopus lagopus scotica). Temo, portanto, que a política de recuperação da natureza não esteja a ser impulsionada pela ciência, mas por expedientes políticos e campanhas nas redes sociais.

Então, de que adianta estabelecer metas ainda mais vinculativas se a política simplesmente não vai refletir as ações necessárias?

Este governo tem sido líder mundial em muitas novas iniciativas. Agora é a hora de enfrentar o desafio e encorajar uma série de medidas de conservação que abordem as diferentes pressões que a nossa vida selvagem está a enfrentar, incluindo a melhoria do habitat e da conectividade, mas também medidas cientificamente comprovadas, como o controle de predadores antes de perdermos outra meta e vermos mais espécies no limiar da extinção.

Escrito por Henrietta Appleton,

Projeto Allerton

Game & Wildlife Conservation Trust

Tradução livre de João Grosso

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