Viajo todas as semanas entre Grândola e Mértola. Para norte e para sul, assisto ao nascer do dia, outras vezes ao cair da noite. Com o passar dos anos, desde 2011, verifico uma enorme alteração na paisagem: o aumento da área de culturas intensivas. Onde existiam áreas agrícolas de cereais, em Ferreira e Beja, têm-se instalado olivais e amendoais.
Porém, algo não se modificou: só começa a observar-se a presença de espécies selvagens a partir da altura em que se abandona o IP2 e se entra na N122. E, à medida que se aproxima Mértola, essa frequência aumenta. Porque será?
Ouvi há pouco, que no Campo Branco, em Castro Verde, a população de Sisões (Tetrax tetrax), tinha diminuído 50% nos últimos 10 anos. O Sisão não é espécie cinegética há pelo menos 50 anos, pelo que este fenómeno não é devido à Caça. Com todas as medidas de proteção, de cuidado, de monitorização, tantos projetos, fundos investidos, porque será que diminui assim drasticamente a sua população?
E porque será que o Lince-ibérico (Linx pardinus), que esteve à beira da extinção, que deixou mesmo de existir em Portugal, o seu repovoamento tem estado a ter um enorme sucesso reprodutivo no Parque Natural do Vale do Guadiana e na Serra de Andujar, Sierra Morena, em Espanha?
Mértola é a Capital Nacional da Caça menor e Andujar, é a Capital Espanhola da Caça Maior! Apetece-me perguntar, não será porque nestes dois locais, a Conservação está ligada a Boas Práticas de Gestão Cinegética?
Por definição, a Gestão Cinegética é a criação ou restauração e manutenção de habitats naturais para as espécies cinegéticas e selvagens, apoiando o seu êxito reprodutivo, assegurando tranquilidade, alimentação, acesso a água potável e controlando as populações excedentárias. É promover a Caça Sustentável baseando as quotas de abate em estimativas periódicas e sistemáticas, apurando as tendências da população, dependendo do número populacional, das condições do habitat e das características individuais, sexo, idade, estado de saúde, etc…
– Um exemplo de Conservação da Vida Selvagem publicado na “FACE”:
“O caso do lince letão (Letónia) – quando a conservação bem-sucedida falha na burocracia:
Populações saudáveis, poucos conflitos: a gestão do lince letão (Linx linx) proporcionou resultados bem-sucedidos durante décadas, com base em ações de conservação claras e quotas de caça bem regulamentadas. As recentes medidas de Bruxelas poderão, sem dúvida, prejudicar este sistema bem-sucedido, aumentando assim os conflitos.
Exemplo: Plano de Gestão do Lince letão
O plano foi elaborado por especialistas nacionais e confirmado por despacho do Ministro do Ambiente e do Desenvolvimento Regional em 2002.
O plano constitui a base de uma estratégia a longo prazo para a conservação e gestão do lince na Letónia, incluindo a gestão estritamente limitada da população através da caça. Tem uma visão de longo prazo, onde o lince na Letónia tem atualmente o seu melhor estado de distribuição nos últimos 150 anos e é considerado como tendo um estado de conservação favorável.
Considera-se que a captura limitada e estritamente controlada pelos caçadores tem um impacto positivo na população, bem como na perceção do público. A prática está, portanto, em plena conformidade com o artigo 16.º, n.º 1, alínea e), da Diretiva Habitats.”
FACE (Tradução livre do artigo da FACE)
Existe na sociedade um enorme equívoco que, porventura, tem origem nas más práticas de caça a que, infelizmente, por vezes ainda assistimos e que confundem com Gestão Cinegética: “Que a Caça é matar animais!”
Mas, na verdade, está comprovado, que a ação interventiva da Gestão Cinegética, é a ferramenta que, utilizada corretamente, promove a Biodiversidade e Conserva a Fauna Selvagem!
João Grosso