A CAÇA É NECESSÁRIA
Pela primeira vez, em cem mil anos de história da humanidade, a caça é uma atividade insultada por uma parte da sociedade e corre o risco de extinguir-se. O homem foi caçador recolector desde os seus primórdios ancestrais, mas em meados do século XXI, sobretudo em países mais civilizados, um importante sector social não entende o papel da caça e trabalha com a ideia de lhe pôr fim.
As razões encontradas é que a caça é uma atividade eminentemente rural, e a cultura do campo foi perdida, não existe, para muitas das nossas gerações. O movimento animalista floresce nos nossos dias, cujos princípios básicos seriam assinados pelos próprios caçadores, embora a maioria sejam tão exagerados a tal ponto que a linha que defendem para os direitos dos animais, é muitas vezes utópica, se não absurda.
Para muitos dos seus críticos, o caçador é quase sempre um senhor que desfruta ao máximo fazendo mal aos animais e tentando matar todos os que puder. Não entendem que a caça ainda é basicamente rural e a maioria de seus praticantes são do povo e de origem basicamente humilde.
O caçador de troféus e cinco veados num posto é uma raríssima exceção. Não podemos confundi-los com muitas famílias aristocráticas espanholas de raízes profundas, que souberam transmitir uma cultura de caça respeitosa a todas as suas gerações. Em boa medida, a eles lhes devemos o feito de que Espanha seja o país da Europa com a biodiversidade mais rica.
No nosso país proliferam as zonas de caça cujos ecossistemas estão num estado de conservação similar ao que tínhamos há séculos, ou milénios, graças à vontade dos seus proprietários de não explorá-los de qualquer forma. Além disso, o caçador ama as peças de caça, e é frequente que abrace movimentos e atividades em prol da conservação. Não é em vão que a maioria dos grandes naturalistas e conservacionistas da história tiveram a sua origem como caçador – Darwin, Brehm, Felix Rodríguez de la Fuente, Jose Antonio Valverde, Chapman y Buck, etc.
O principal argumento para defender a caça é que é absolutamente compatível, e mesmo complementar, com a conservação da biodiversidade. Em muitos países africanos a pressão demográfica é tão agressiva que já não se deixam animais fora dos parques nacionais e das reservas de caça, que têm um papel essencial.
A caça é racional e sustentável, entre outras coisas porque o caçador aprendeu que não teria sentido acabar com o seu próprio recurso. Num momento de preocupação pelo abandono do campo, a caça supostamente é uma das mais importantes alternativas para dinamizar o mundo rural e gerar uma importante economia. Nada menos que 0,3% do PIB em Espanha, com um gasto anual de 6.5 milhões de euros e gerando 186.000 empregos. Praticamente todas as regiões espanholas mantêm uma larga cultura venatória e creio que a humanidade daria um passo atrás se acabarmos com ela.
Juan Delibes é Biólogo e Engenheiro
Fonte: ABC.es
(Este texto foi traduzido para o idioma Português)